Pressionados pela baixa atividade econômica, comerciantes cortam
custos e refazem planos de expansão
A estagnação da economia está forçando muitas varejistas
do Paraná a reduzir investimentos e cortar custos para enfrentar o momento ruim
sem promover demissões. A pretensão de investir caiu 13 pontos no estado no
último semestre, ao mesmo tempo em que a possibilidade de reduzir o quadro
funcional se expandiu, indica pesquisa conjuntural encomendada pela Federação
do Comércio do Estado do Paraná (Fecomércio-PR) junto a representantes do
setor.
Entre as que apertaram os cintos estão as Lojas MM, com
sede em Ponta Grossa e focadas em móveis e eletroeletrônicos. A empresa reduziu
de 40 para 30 o número de lojas a serem abertas até dezembro. O plano de
expansão foi definido em setembro passado, mas alterado neste início de ano,
após uma sondagem própria indicar queda recorde na confiança do consumidor.
Situação parecida enfrenta a Romera, de Arapongas, que
pretendia ingressar neste ano em um novo estado, mas adiou o projeto para 2016.
A entrada do grupo no Pará, feita no ano passado, já havia sido afetada, com
redução de 16 para nove no número de unidades abertas. “A Copa do Mundo foi o
divisor de águas, o marco para a decadência do nosso mercado”, conta o diretor
executivo do grupo, Júlio Lara, que ficou decepcionado com a venda de
televisores durante o Mundial. Ele relata redução no ímpeto do consumidor desde
então.
O Grupo Muffato, que tem super e hipermercados, não
cortou investimentos, mas usa a palavra “cautela” para definir o momento atual
e afirma que vai esperar os próximos meses para decidir em que ritmo pretende
executar as obras previstas – três unidades devem ser abertas neste ano, em
Ponta Grossa, São José do Rio Preto (SP) e um município ainda não divulgado.
“Esse é um dos cenários mais difíceis do período pós Plano Real”, diz o diretor
do grupo, Everton Muffato.
As empresas também têm promovido reduções de custos para
compensar resultados abaixo do esperado – em 2014, as vendas do varejo no
Paraná recuaram 6% no segmento de móveis e se expandiram 2,4% de maneira geral,
configurando o pior resultado em nove anos, conforme dados do IBGE. As Lojas
MM, por exemplo, diminuíram o volume de treinamentos e realocaram funcionários
para suprir novas demanda sem contratações. Na Romera, viagens foram
restringidas a casos indispensáveis e ferramentas como Skype se tornaram opção
para promoção de reuniões a distância, sem necessidade de deslocamentos.
Risco de demissões
Os esforços, segundo os empresários, buscam afastar
a possibilidade de promover demissões. O Grupo Muffato interrompeu o movimento
de abertura de vagas há cerca de nove meses e, hoje, só contrata para
substituir funcionários que se desligam da empresa.
Júlio Lara, da Romera, diz que a empresa está
“tirando de onde pode para não precisar mexer nos empregos”. “Antes, nossa
vitória era aumentar as vendas. Agora, vamos ficar felizes se não precisarmos
fazer corte de pessoal”, acrescenta.
Para o presidente da Associação Comercial do
Paraná, Antônio Miguel Espolador Neto, o aumento do volume de vendas será a
condição necessária para que o movimento de demissões no varejo seja evitado.
“Os empresários estão muito preocupados com essa possibilidade.”
Otimismo
atinge o menor índice em cinco anos
A
expectativa de vendas dos empresários do Paraná no primeiro semestre de 2015
despencou e alcançou o menor índice já registrado pela Fecomércio-PR, que há 14
anos faz esse levantamento. O indicador atual mostra que apenas 38% dos
entrevistados têm expectativa favorável de vendas para este semestre.
O
índice alcançou o melhor resultado recente no primeiro semestre de 2010 (88%)
e, desde então, vem caindo. O recuo no último ano foi de 24 pontos, o que levou
o indicador a ficar abaixo de 50% pela primeira vez desde que a pesquisa é
realizada.
As
principais razões para o pessimismo, conforme a entidade, são a elevada carga
tributária, a inflação crescente, o aumento dos custos de mercado e a falta de
dinheiro em posse dos clientes. “Tivemos aumento de juro, restrição de crédito
e elevação da carga tributária. Tudo marchou contra o varejo”, resume o
presidente da Fecomércio-PR, Darci Piana.
A
área mais cética é a de Curitiba e região metropolitana, onde a expectativa de
crescimento das vendas é de apenas 34%. Em contrapartida, os empresários mais
otimistas são os do Oeste e Sudoeste do estado, que têm 60% de perspectiva de
faturar mais ao longo deste semestre. Piana explica que o otimismo nessas
regiões se deve à influência do agronegócio, que gera receitas que movimentam o
varejo local. (RC)
Gazeta do Povo
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